No meu período de
férias de fim de ano, fui convidado para auxiliar o arcebispo de Salvador e
primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger,scj, e o Pe. Gilson Magno em uma
celebração eucarística na capela do antigo Colégio Maristas, no bairro do
Canela, em Salvador. Lá, vi que a equipe responsável pelo templo religioso,
dedicado a Nossa Senhora da Vitória, tinha preparado um pequeno material acerca
do Natal (vale lembrar que estávamos no Tempo do Advento). Reparei que o autor
daquele texto era o próprio Arcebispo. Perguntei
a ele se aquele escrito já tinha sido publicado, e ele disse que sim. Ao ler o
título (Natal: por que 25 de dezembro?), logo me interessei em aprofundar aquela
leitura, pois se tratava de um tema em que, muitas vezes, fui interpelado pelas
pessoas: por que comemoramos o Natal no dia 25 de dezembro, já que não existe
nenhum trecho bíblico que comprove esta data? Por que montamos o presépio no
período natalino e quem foi o seu criador? No entanto, baseado nos conteúdos
adquiridos na disciplina História da Igreja, conseguia responder, sem muitos
problemas, estas questões. Porém, tenho certeza de que
existem muitas pessoas que ainda têm dúvidas. Logo, resolvi publicar, abaixo,
este breve texto de Dom Murilo, a fim de que as pessoas possam compreender
melhor o porquê do dia 25 de dezembro e os seus símbolos e, também, para
aquelas que não tiveram a oportunidade de desfrutar deste material na primeira
vez que foi publicado no Jornal A Tarde.
Se procurarmos no Evangelho indicação
sobre o dia do nascimento de Jesus, nada encontraremos. Na visão dos apóstolos
e evangelistas, não se tratava de um fato digno de registro; no centro de sua
pregação estava a ressurreição do Senhor. A preocupação que tinham, ao falar
dele a quem não o conhecia, era clara: apresentar uma pessoa viva, não alguém
do passado. É o que notamos, por exemplo, nos dez discursos querigmáticos
(querigma: primeiro anúncio; apresentação das verdades centrais do
cristianismo) que encontramos nos Atos dos Apóstolos. A ideia fundamental
desses discursos é a mesma: “A este Jesus, Deus o ressuscitado; disso todos nós
somos testemunhas” (At 2,32).
Voltemos ao Natal. No tempo do Papa
Júlio I, que dirigiu a Igreja do ano 337 a 352, é que foi introduzida essa
solenidade no calendário da Igreja. Até então celebrava-se apenas a festa da
Epifania – isto é, a manifestação do Senhor aos povos pagãos, representados
pelos magos do Oriente. Ficava assim claro que Jesus era o Salvador de todos os
povos, e não apenas de um só povo. Por que, então, 25 de dezembro como data do
Natal?
O Império Romano havia decidido que
todos os povos deveriam comemorar a festa do “sol invicto”, o renascimento do
sol invencível. Era invencível uma vez que caía (morria) de noite e renascia a
cada manhã, eternamente. Esse renascimento diário era celebrado no dia 25 de
dezembro. O sol era também símbolo da verdade e da justiça, igualmente
consideradas invencíveis uma vez que, por mais que muitos tentassem
destruí-las, sempre renasciam vitoriosas. O sol, considerado um deus, era uma
luz poderosa, que iluminava o mundo inteiro. Igualmente a verdade e a justiça
eram luzes poderosas para todos os povos.
Em vez de simplesmente combater essa
festa pagã, os cristãos passaram a apresentar Jesus Cristo, nascido em Belém,
como o verdadeiro sol, já que nos veio trazer a verdade e a justiça. Também ele
passou pela morte, mas dela ressurgiu, mostrando que era invencível. Seu
nascimento – isto é, seu natal -, já que não se sabia em que dia havia
ocorrido, passou a ser celebrado no dia do sol invicto.
A tradição – louvável tradição! – dos
presépios é posterior: na noite de Natal de 1223, em Greccio – Itália, S.
Francisco de Assis fez o primeiro presépio. Ele maravilha-se que Jesus, o Filho
de Deus, havia-se encarnado para que pudéssemos conhecer o rosto de Deus. Com
Jesus, passamos a ter em nosso meio um Deus que “trabalhou com mãos humanas,
pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração
humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós,
semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (GS,22). Como não representar,
então, seu nascimento, ocorrido numa gruta de Belém? Ao longo dos tempos e dos
lugares, cada povo foi deixando suas próprias marcas nos presépios. Os
presépios que vemos pela cidade de Salvador (que seja, um dia, a cidade “do”
Salvador!), em parte fruto da iniciativa do projeto: “Salvador, cidade natal do
Brasil”, é uma prova disso. Por sinal, não deixa de ser significativo que tal
iniciativa tenha tido tanta acolhida na cidade que se identifica com o nome de
Jesus. Afinal, o anúncio dos anjos em Belém, foi claro: “Eu vos anuncio uma
grande alegria...: nasceu para vós o Salvador!” (Lc 2,10).
O nascimento de Jesus é o fato central
da história da humanidade; tanto assim que contamos os anos a partir desse
acontecimento. Na proximidade do Natal, caminhemos ao encontro do menino que
nos é dado, para contemplá-lo e lhe dizer:
“Vimos
te adorar, Menino Jesus. Estamos maravilhados diante da grandeza e da
simplicidade do teu amor! Tu agora estás conosco para sempre! Tu, pobre,
frágil, pequeno... para nós, para mim! Em ti resplende a divindade e a paz. Tu
nos ofereces a vida da graça. Teu sorriso volta-se para os pequenos, pobres e
simples. Por isso, depositamos a teus pés nossas orações, nossa vida e tudo o
que somos e temos. Olha com especial carinho, contudo, para todos aqueles que
não te conhecem e, por não te conhecerem, não te amam. Amém!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário