sábado, 28 de abril de 2012

DEUS QUIS DEIXAR O HOMEM “ENTREGUE À SUA PRÓPRIA DECISÃO” (ECLO 15,14)


No final do semestre passado (2011.2), o professor da disciplina Teologia Moral solicitou à turma um breve texto acerca do documento Veritatis Splendor, escrito por João Paulo II. Nesta obra do Sumo Pontífice, deveríamos escolher um tema, produzir um material e, por conseguinte, apresentá-lo na sala de aula. Decidi eleger um assunto que se refere à liberdade humana. Fui tentado a desenvolver este ponto, devido a alguns questionamentos que me foram feitos a mim referente a esta questão. Um deles, e que expus, brevemente, no texto abaixo, fala sobre o SIM da Virgem Maria, que acolheu, com muita simplicidade e singeleza, ser a Mãe do Menino Deus. Abaixo, está o texto em que abordo o tema e que foi apresentado ao docente de Teologia Moral da UCSal, Pe. Maurício Ferreira, que requereu o material:
      
          Tendo como fonte principal a carta encíclica Veritatis Splendor, do beato João Paulo II, escolhemos um dos temas do capítulo I (A Liberdade e a Lei) para uma breve discussão: Deus quis deixar o homem “entregue à sua própria decisão” (Eclo 15,14).
         Ao entrarmos no âmbito desta questão, nós nos lembramos de duas imagens bíblicas que expressam, significativamente, a questão da liberdade humana (estas passagens foram escolhidas para uma melhor compreensão do tema): os israelitas que fugiram da escravidão do Egito (cf. Ex 14), e o SIM de Maria (cf. Lc 1). A priori, estes eventos são bem distintos, a não ser por um detalhe: expressam a liberdade para o serviço a Deus.
O Pai só poderia se relacionar com os israelitas no momento em que o seu povo estivesse livre da opressão do Faraó. Após a travessia do Mar Vermelho, começou, de fato, o relacionamento que o Senhor Deus desejava ter com o seu povo. Com relação ao sim de Maria para o projeto de Deus, na plenitude dos tempos, algumas pessoas questionam se Nossa Senhora teve esta decisão de modo livre, ou se ela foi forçada a assumir esta missão. Logo, com base na Veritatis Splendor, podemos dizer que Maria fez por vontade própria: “Deus quis deixar o homem entregue à sua própria decisão, para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a ele”.[1] Após esta citação, fica mais clara a questão da libertação dos cativos do Egito.
Anunciação do anjo: O SIM de Maria
A liberdade concedida ao homem é uma participação da soberania divina. Quem poderia governar algo pelo seu querer, sem dono e livre? Na criação do mundo, quando Deus nos fez a sua imagem e semelhança, não se referia às características físicas, apenas. A qualidade de governo reinante, livre, é uma condição daqueles que são herdeiros do Soberano do universo, dando-nos plenos poderes para governar aquilo que ele criou, pois deixou o homem “entregue à sua própria decisão” (Eclo 15,14). Esta liberdade nos é oferecida para que alcancemos a nossa perfeição, a partir do momento em que buscamos o Criador. Porém, deve-se evitar um pensamento errôneo, quando se toca neste assunto: não significa que a liberdade do homem o torna independente, fazendo com que o Deus seja uma figura mitológica, que não existe. Isto seria uma visão ateia. No entanto, devemos estar atentos a esta questão: “Pois sem o Criador, a criatura não subsiste”.[2]
Por fim, diante desta breve observação, estamos cientes de que a recusa ao projeto que Deus lhe oferece não se caracteriza como uma autonomia saudável. Pelo contrário. A verdadeira autonomia é quando “a liberdade do homem e a lei de Deus encontram-se e são chamadas a compenetrar-se entre si, no sentido de uma livre obediência do homem a Deus e da benevolência gratuita de Deus ao homem”.[3]


Você, que se sente chamado ao projeto de Deus, independente de ser uma vocação sacerdotal, religiosa ou laical, já tomou coragem para dar o seu sim? Se ainda está em dúvida, não tenha medo. Há inúmeros personagens, ao longo da história, que escolheram o serviço em prol do Reino de Deus, nos apresentam, ainda hoje, belíssimos testemunhos e comprovam que, ao abraçar a missão divina, ninguém sai perdendo. Pelo contrário. A partir do nosso sim, através do livre arbítrio que nos foi dado, nos abrimos para a graça e para os milagres que o Criador realiza diariamente, fazendo de nós verdadeiros instrumentos de paz e esperança, mostrando a todos que vivem no vale da sombra da morte a verdadeira Luz do mundo, que surge em um horizonte bem próximo de nós. 



[1] Veritatis Splendor, 38.
[2] VS, 39.
[3] VS, 41.

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