No final do semestre passado (2011.2), o professor da disciplina
Teologia Moral solicitou à turma um breve texto acerca do documento Veritatis Splendor, escrito por João
Paulo II. Nesta obra do Sumo Pontífice, deveríamos escolher um tema, produzir
um material e, por conseguinte, apresentá-lo na sala de aula. Decidi eleger um
assunto que se refere à liberdade humana. Fui tentado a desenvolver este ponto,
devido a alguns questionamentos que me foram feitos a mim referente a esta
questão. Um deles, e que expus, brevemente, no texto abaixo, fala sobre o SIM
da Virgem Maria, que acolheu, com muita simplicidade e singeleza, ser a Mãe do
Menino Deus. Abaixo, está o texto em que abordo o tema e que foi apresentado ao
docente de Teologia Moral da UCSal, Pe. Maurício Ferreira, que requereu o
material:
Tendo como fonte principal
a carta encíclica Veritatis Splendor,
do beato João Paulo II, escolhemos um dos temas do capítulo I (A Liberdade e a
Lei) para uma breve discussão: Deus quis deixar o homem “entregue à sua própria
decisão” (Eclo 15,14).
Ao entrarmos no âmbito
desta questão, nós nos lembramos de duas imagens bíblicas que expressam,
significativamente, a questão da liberdade humana (estas passagens foram
escolhidas para uma melhor compreensão do tema): os israelitas que
fugiram da escravidão do Egito (cf. Ex 14), e o SIM de Maria (cf. Lc 1). A priori, estes eventos são
bem distintos, a não ser por um detalhe: expressam a liberdade para o serviço a Deus.
O Pai só poderia se relacionar com os israelitas no
momento em que o seu povo estivesse livre da opressão do Faraó. Após a
travessia do Mar Vermelho, começou, de fato, o relacionamento que o Senhor Deus
desejava ter com o seu povo. Com relação ao sim de Maria para o
projeto de Deus, na plenitude dos tempos, algumas pessoas questionam se Nossa Senhora teve
esta decisão de modo livre, ou se ela foi forçada a assumir esta missão. Logo,
com base na Veritatis Splendor, podemos
dizer que Maria fez por vontade própria: “Deus quis deixar o homem entregue à
sua própria decisão, para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente
chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a ele”.[1] Após
esta citação, fica mais clara a questão da libertação dos cativos do Egito.
Anunciação do anjo: O SIM de Maria |
A liberdade concedida ao homem é uma participação
da soberania divina. Quem poderia governar algo pelo seu querer, sem dono e
livre? Na criação do mundo, quando Deus nos fez a sua imagem e semelhança, não
se referia às características físicas, apenas. A qualidade de governo reinante,
livre, é uma condição daqueles que são herdeiros do Soberano do universo, dando-nos plenos poderes para governar aquilo que ele criou, pois deixou o homem “entregue
à sua própria decisão” (Eclo 15,14). Esta liberdade nos é oferecida para que alcancemos
a nossa perfeição, a partir do momento em que buscamos o Criador. Porém,
deve-se evitar um pensamento errôneo, quando se toca neste assunto: não
significa que a liberdade do homem o torna independente, fazendo com que o Deus
seja uma figura mitológica, que não existe. Isto seria uma visão ateia. No
entanto, devemos estar atentos a esta questão: “Pois sem o Criador, a criatura
não subsiste”.[2]
Por fim, diante desta breve observação, estamos
cientes de que a recusa ao projeto que Deus lhe oferece não se caracteriza como
uma autonomia saudável. Pelo contrário. A verdadeira autonomia é quando “a
liberdade do homem e a lei de Deus encontram-se e são chamadas a compenetrar-se
entre si, no sentido de uma livre obediência do homem a Deus e da benevolência
gratuita de Deus ao homem”.[3]
Você, que se sente chamado ao projeto de Deus,
independente de ser uma vocação sacerdotal, religiosa ou laical, já tomou
coragem para dar o seu sim? Se ainda está em dúvida, não tenha medo. Há inúmeros
personagens, ao longo da história, que escolheram o serviço em prol do Reino de
Deus, nos apresentam, ainda hoje, belíssimos testemunhos e comprovam que, ao
abraçar a missão divina, ninguém sai perdendo. Pelo contrário. A partir do
nosso sim, através do livre arbítrio que nos foi dado, nos abrimos para a graça
e para os milagres que o Criador realiza diariamente, fazendo de nós
verdadeiros instrumentos de paz e esperança, mostrando a todos que vivem no
vale da sombra da morte a verdadeira Luz do mundo, que surge em um horizonte
bem próximo de nós.
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