Se um dia eu escrever um livro,
com certeza este será o primeiro texto de minha obra. Ele estará na frente dos
demais escritos não por uma razão cronológica (o primeiro a ter sido feito),
mas por uma questão afetuosa, pois ele fala a respeito do meu SIM, uma simples
resposta que modificou inteiramente a minha vida (e para melhor).
Tudo começou em dezembro de
2006, quando decidi fazer uma experiência religiosa no Seminário
Arquidiocesano de Salvador/BA. No ano seguinte,
ingressei no grupo vocacional da Arquidiocese, que visava apresentar aos jovens
um pouco da vivência em uma casa de formação presbiteral, o carisma do Padre
Diocesano, entre outros aspectos essenciais na vida de um vocacionado. Em média,
de março a dezembro de 2007, período de duração da formação dos candidatos ao
seminário, 14 jovens participaram dos encontros vocacionais.
Neste período, o laço de
amizade entre os vocacionados aumentava. Brincadeiras, partilhas, visita às
famílias... Tudo isso eram motivações para, juntos, seguirmos em direção à
messe do Senhor. Certo dia, no intervalo de um encontro, que era realizado no
Centro Vocacional Dom Lucas Moreira Neves (CVDL), no bairro do Garcia, em
Salvador, decidimos que, juntos, visitaríamos as comunidades paroquiais de cada
jovem. Sendo aprovada esta ideia, passeamos pelas paróquias dos vocacionados de
Salvador e região. Conhecer as raízes vocacionais de cada amigo, as suas comunidades,
os paroquianos que rezam por nós, eram elementos que deixavam
o coração de cada um em chamas! Por fim, um de nós, ao final de cada missa, lia
um pequeno texto, agradecendo ao pároco e à
comunidade pela acolhida e motivando aquela Paróquia
a rezar pelas vocações sacerdotais. Eu fui escalado para produzir e ler o texto
na nossa última visita, realizada na Catedral Basílica de Salvador. Abaixo,
está o material que foi lido naquela manhã de 16 de dezembro de 2007:
Louvado seja nosso
Senhor Jesus Cristo. Bom dia a todos da Paróquia da Transfiguração do Senhor, Catedral
Basílica de São Salvador da Bahia. Nós, candidatos ao Seminário Propedêutico em
2008, estamos encerrando, hoje, na Igreja-Mãe de nossa Arquidiocese,
as visitas às comunidades de cada um dos
vocacionados que participaram conosco do Processo Seletivo no presente ano.
Desde a 1ª visita que fizemos, no início de outubro, no
Bairro da Paz, até hoje, 16 de dezembro, observamos a diversidade cultural que
existe nas paróquias de nossa arquidiocese. É uma pluralidade que nos leva a um
objetivo comum: a um só Deus e a um só Salvador.
Através da decisão de fazer
uma experiência vocacional em vista do sacramento da Ordem, sentimento este que
cada um viveu, primeiramente, nas suas comunidades de origem, transformamos a
nossa heterogeneidade em um sentimento unitário, que é servir o nosso Pai através
do sacerdócio, assim como Melquisedeque, sacerdote do Deus vivo (cf. Gn. 14,
18). Logo, estaremos partindo para uma longa
caminhada, um discernimento vocacional, onde somos chamados a trabalhar na
vinha do Senhor, assim como o vocacionado desta Paróquia.
Como ele, nós também iremos deixar nossas casas, pais,
irmãos e amigos por causa do Deus vivo e do Evangelho. Por isso, pedimos a
bênção do Senhor e as orações de todos vocês, para nos fortalecer nesta nova
etapa da história de cada um de nós. Que no
final dessa trajetória todos possamos ser
sacerdotes santos, capazes de pastorear o povo de Deus e de nossa Arquidiocese.
Deus seja louvado!
Turma de 2008 que ingressou, comigo, no Seminário. Aqui, em 2012, nos reunimos novamente, para lembrarmos, com muita alegria, aquele 16 de dezembro de 2007. |
Além do meu sim, este texto faz
com que eu reflita algumas questões: a primeira é o chamamento para a missão. Há dois mil
anos, Cristo fez um convite a várias pessoas. Elas vinham de um berço familiar,
um histórico profissional e uma personalidade totalmente diferente uma das
outras. E hoje, será que mudou alguma coisa? Por isso, diante de tantas
definições acerca do Filho de Deus, gosto de dizer que Jesus é o maior gestor
de pessoas que existe. Ele é, e será, o único capaz de fazer com que pessoas
que, aos olhos dos homens, dificilmente poderiam viver juntas, por causa dos
seus diferentes pontos de vista acerca da vida, comunguem, unidas, um mesmo
ideal: a santa Eucaristia!
O segundo ponto é sobre a
vocação. Você tem ouvido Deus falar consigo? Já
fez o discernimento acerca do caminho que deseja trilhar? Coragem! Deus não nos
deu espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sobriedade (2Tm
1,7).
Por fim, o terceiro ponto
refere-se àqueles que já estão em uma caminhada vocacional, seja ela sacerdotal,
religiosa, laical ou matrimonial. Em todas as circunstâncias da vida, a
dificuldade pode bater à nossa porta. Problemas
referentes à saúde, dificuldade no relacionamento com o próximo, aridez
espiritual são alguns dos exemplos de problemas que podemos enfrentar. Porém, se
enfrentarmos estas turbulências, segurando nas mãos do Senhor, sairemos delas
revigorados e fortalecidos. Logo, seremos exemplos vivos a todas as pessoas que
se dirigirem até nós em busca da solução de um problema que estão vivendo e que, com a graça de Deus, nós
enfrentamos e vencemos.
Se, por um acaso, cairmos nas
ciladas do inimigo, no que se refere ao nosso projeto de vida, fazendo com que
a desmotivação tente entrar no nosso coração, devemos sempre fazer uma anamnese
dos nossos primeiros passos vocacionais. Assim, se a caminhada começar a perder sentido, devemos nos lembrar, e viver, o nosso
primeiro amor, voltar àquela experiência que nos cativou desde o início, que
fez com que abandonássemos tudo em busca deste ideal.
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